segunda-feira, 19 de agosto de 2013

movimento do chute com o dorso do pé em jogadores de futebol de campo

O estudo do COP (centro de pressão plantar) 

É importante respeitar o estilo do jogador

O futebol é um fenômeno mundial praticado por aproximadamente 200 milhões de pessoas em 190 países (Fonte: site oficial da Fifa, 2010); sendo imprescindível que os profissionais envolvidos no seu ensino e treinamento apoiem- se em descobertas que a ciência oferece cada vez em maior número e qualidade.
A biomecânica do esporte permite, entre outras coisas, examinar e avaliar as técnicas utilizadas para monitoramento de movimentos esportivos ou de atividades do cotidiano, identificar os parâmetros mecânicos de rendimento corporal motor, identificar os elementos mecânicos presentes em lesões adquiridas na prática motora, e avaliar equipamentos e peças de vestuário esportivo.
O alto rendimento esportivo é obtido pela união de vários fatores intervenientes da performance. Um dos grandes desafios dos profissionais da área desportiva é observar o desempenho de seu atleta e decidir a técnica precisa de correção.
Uma visão geral do COP na análise do controle postural
COP significa center of pressure, na língua inglesa, porém adotamos esta nomenclatura para nosso idioma e é a definição de centro de pressão ou centro de pressão plantar, que é uma medida de deslocamento e é influenciado pela posição do centro de massa (COM ou center of mass). Esta grandeza é classicamente associada aos estudos do controle postural por causa de sua relação com o centro de massa (center of mass).
De acordo com [1] a oscilação do COM é a grandeza que realmente indica o balanço do corpo e a grandeza COP é resultado da resposta neuromuscular ao balanço do COM; são medidas que podem ser analisadas separadamente, mas é interessante que se analise o comportamento destas duas grandezas simultaneamente.
[2] define que o corpo humano pode ser definido fisicamente como um complexo sistema de segmentos articulados em equilíbrio estático ou dinâmico, onde o movimento é causado por forças internas atuando fora do eixo articular, provocando deslocamentos angulares dos segmentos, e também por forças externas ao corpo.
Podemos aplicar para análises estáticas ou dinâmicas, no caso do futebol a análise dinâmica é a que predomina; deve ser medida através da dinamometria, tendo como instrumento de estudo uma plataforma de força ou de equilíbrio, que registrará as oscilações do atleta nas direções ântero-posterior e médio-lateral.
É uma análise muito aplicada, no meio científico, por fisioterapeutas e profissionais que trabalham com controle neuromotor e estabilidade postural, diagnosticando desvios de função postural, reabilitando e prevenindo lesões decorrentes de situações do cotidiano e dos esportes podendo ser de rendimento ou recreacional.
Mesmo sendo um teste aplicado na maioria das vezes em laboratório, os resultados obtidos são eficazes e podem ser transferidos, no caso especifico do futebol, para a comissão técnica com o intuito de detectar desvios ou sobrecargas mecânicas em membros inferiores (quadril, joelhos, tornozelos) de atletas que muitas vezes não são detectados apenas pelo "olhar humano", fornecendo um feedback positivo.
Muitos são os fatores que causam alterações do COP e consequentemente da estabilidade postural; dentre eles, destacam-se: a mecânica do movimento executada de maneira errada, gesto postural, sobrecarga nos membros inferiores, calçados, maneira de pisar, saltos, impactos com sobrecarga corporal em uma ou ambas as pernas, contatos corporais constantes, deslocamentos em diferentes posições durante a partida e a qualidade dos campos (gramados) tanto de treinamentos quanto de jogos; portanto diante deste quadro preocupante, há a necessidade de se aplicar esta análise e quantificar os dados obtidos interpretando-os posteriormente, num trabalho integrado entre profissionais da saúde e comissão técnica da equipe.
Importância da estabilidade do atleta durante o chute

Analisando o gesto técnico do chute, percebe-se que pode ser caracterizado basicamente por dois tipos de posicionamento do pé em relação à bola. O primeiro é o chute com a parte medial do pé e o segundo utilizando o dorso do pé, sendo este mais estudado na biomecânica, devido a sua aplicabilidade e eficiência maiores.
O conhecimento teórico do chute é um fator importante para o jogador, pois o habilita a diminuir as possibilidades de erros. Deve ser desenvolvido ao máximo sob condições difíceis e com qualquer parte do pé.
De acordo com [3], a análise dos dados do chute no futebol, facilita a identificação de padrões desse movimento e pode indicar o nível de habilidade do atleta, comparando diferentes padrões de movimento em diferentes faixas etárias e em diferentes tipos de chutes; e também de outros fundamentos, tais como: passe, domínio, drible, cabeceio entre outros.
A execução técnica do chute é aparentemente fácil, porém na prática pode tornar-se difícil devido a condições externas que nem sempre são controláveis. O jogador define o método do chute de acordo com seu propósito imediato, mas, às vezes, as circunstâncias da partida é que determinam o tipo e a força empregada para atingir o objetivo no instante determinado. É importante respeitar o estilo do jogador mostrando-lhe as possibilidades de melhoria do movimento.
Mediante pesquisas anteriores [4,5,6], fica cada vez mais evidente a necessidade da estabilidade global do atleta e deste controle motor durante o chute, visando a máxima eficiência do movimento e a diminuição do risco de lesões.

Quais resultados reais podem ser alcançados com o estudo do COP ?

Por ser uma modalidade esportiva cuja eficiência tem relação com o controle e sincronização de movimentos dos diversos segmentos para manter uma harmonia estética de movimento do corpo, o controle da trajetória dos segmentos tem direta relação com o controle de força e o equilíbrio mecânico [7]. Sabe-se que um apoio bem estabelecido é característica fundamental para a eficácia do chute, seja de potência ou de precisão.
Num estudo desenvolvido por [8], compararam através do COP, dois grupos distintos: um de jogadores de futebol e outro de dançarinas. Encontraram como resultado uma diferença significativa do deslocamento do COP, sendo menor para o grupo de dançarinas em relação ao apresentado pelo grupo de jogadores de futebol.
Esses autores destacam a importância de análise do equilíbrio de jogadores de futebol, pois nessa prática esportiva o gesto técnico do chute é realizado em apoio unipodal, e ainda é associado com outros fatores externos, durante a fase da corrida de aproximação por exemplo.


Conclusão
Este artigo teve a proposta de detectar a importância do COP e mostrar a sua aplicabilidade para as equipes de futebol de campo através de análises especificas que podem perfeitamente ser utilizadas em beneficio da comissão técnica, buscando a otimização dos resultados, ou seja, da performance e a prevenção e reabilitação de lesões.
O método ainda é recente e pouco aplicado na prática pelas equipes, sendo um trabalho mais desenvolvido ainda em laboratórios, devido ao alto custo de equipamentos e profissionais qualificados para operar a instrumentação.
É um método de análise que gera resultados eficazes, sendo utilizado em alguns clubes da Europa, tais como: Porto, Real Madrid e Milan. Mas, daqui alguns anos certamente será comum a análise desta grandeza dentro dos clubes considerados grandes do futebol brasileiro.
Referências
MOCHIZUKI, L; AMADIO, A.C. Aspectos biomecânicos da postura ereta: a relação entre centro de massa e o centro de pressão. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. V. 3, nº 3, p. 77 – 83, 2003.
AMADIO, A.C; SERRÃO, J.C. Contextualização da biomecânica para a investigação do movimento: fundamentos, métodos e aplicações para análise da técnica esportiva. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.21, p.61-85, dez. 2007.
TEIXEIRA, F.G. Comparação dos padrões cinemáticos de chutes realizados por participantes com 15 e 17 anos. Rio Claro, 2004. 85 p. Dissertação (Mestrado em Motricidade Humana) – Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista.
SILVA, M. G. Instrumentação biomecânica aplicada à análise do desempenho do chute em jogadores de futebol de campo. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2012.
ROSA, L.M. Avaliação do equilíbrio de jogadores de futebol. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2010.
ALMEIDA, V.S; ARCANJO, T; MAGNANI, R.M; ADAMI, D.B.V. Pressão plantar dos jogadores de futebol profissional da Associação Atlética Caldense. Revista Ciência e Saúde. Porto Alegre, nº especial, p. 76 a 78, 2009.
WINTER, D. A. Human balance and posture control during standing and walking. Gait e Posture. v. 3, p. 193 a 214, 1995.
GERBINO, P.G; GRIFFIN, E; ZURAKOWSKI, D. Comparison of standing balance between female collegiate dancers and soccer players. Gait e Posture, v. 26, p. 501 a 507, 2007.
*(Aluno de Doutorado do curso de Engenharia Mecânica/Biociências da UNESP – Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – Campus de Guaratinguetá)
Tags: biomecânica , gesto , movimento , chute , jogador , atleta , otimização , análise ,resultado , performance , lesões , técnica , 

Nenhum comentário:

Postar um comentário